Ou se está no grupo das pessoas que sabem matemática ou no das que não sabem. E se mudarmos esta dicotomia? Uma reflexão para repensar: o que você teria feito na escola se tivesse podido exprimir-se como o faz na sua vida cotidiana?
Para muitas pessoas, "ser bom" em matemática está relacionado a saber calcular, saber de cor tabelas ou fórmulas, resolver exercícios e passar na disciplina. Se você é bom, "você é um gênio"; se é mau, "é o que acontece com a maioria das pessoas". Ser ou não ser, parece ser a questão. Ou se está no grupo das pessoas que sabem matemática ou no das que não sabem. E se mudarmos esta dicotomia?
Ano após ano, as instituições debatem-se com relatórios sobre o desempenho acadêmico dos alunos em todos os níveis. Hoje, em tempos pós-pandemias, a situação parece estar piorando, apesar dos esforços surpreendentes para assegurar a aprendizagem. Atualmente, comunidades inteiras interrogam-se diariamente sobre a forma de melhorar os resultados e os processos de mediação da aprendizagem.
Promover o apreço pela matemática poderia ser uma forma de o conseguir. Aprender dá prazer, pelo que a falta de compreensão lhe retira o aspecto prazeroso. Imagine uma conversa em um idioma que você não compreende, sem tradução. Poderia ser uma conversa fascinante, mas, em última análise, incompreensível. A diferença entre essa conversa e a matemática é que a matemática é certamente fascinante. Uma das alternativas que contribui para torná-la compreensível e agradável é fazer com que as pessoas se sintam parte e construtoras do conhecimento que está sendo discutido em uma sala de aula. Trabalhar com as práticas socialmente compartilhadas associadas aos objetos matemáticos restitui-lhe o seu significado funcional, a sua razão de ser e as suas utilizações. É a oportunidade de aprender fazendo matemática, onde os conceitos são as ferramentas desenvolvidas para responder às situações colocadas.
Como é que se dividem 5.000 dólares de lucro entre duas pessoas que venderam camisetas? Alguns responderão 2.500 dólares para cada pessoa. Outros dirão que isso dependerá do número de camisetas que cada pessoa vendeu, do esforço que cada uma fez, do montante investido e de várias outras relações que podem ser estabelecidas. Qual delas é o correta? Todas são válidas, pois propõem um montante a distribuir entre as pessoas. Será essencial discutir os argumentos que validam as suas respostas.
Por vezes, é imensa a distância entre o que se aprende na escola e o que a vida cotidiana de uma pessoa exige. Quando a prática é o palco para comprovar a aprendizagem, mas, sobretudo, o palco da aprendizagem, as ferramentas didáticas transformam-se. Esta transição merece uma nova relação com a matemática escolar: da operacionalidade matemática à funcionalidade do pensamento matemático.
Atividade de matemática com professores.
Trata-se de potencializar a ideia de que saber matemática está relacionado a situações que vão além dos cálculos. Tem a ver com pensar matematicamente. Sabe-se que tudo o que está relacionado ao pensamento tem um vínculo direto com as construções mentais, e o matemático, em particular, considerando a última etapa da posição cognitivista piagetiana, está vinculado à abstração, ao simbolismo formal e à generalização.
Analisando-a a partir da disciplina Matemática Educativa, da Didática da Matemática ou Educação Matemática, podemos aprofundar a ideia cognitivista e ganhar precisão, de modo a propor uma forma (e o cuidado de não dizer "a" forma) para desenvolver o pensamento matemático. Assim, trabalhar a transição da experiência do "que é" para o "que poderia ser" no ato educativo em nível matemático, potencializa a transição entre o pragmático, o abstrato e o hipotético. Para tanto, propõe-se, entre outras coisas, construir e analisar argumentos matematicamente corretos; analisar aqueles que não se destinam a compreender o pensamento subjacente (há explicações do porquê de se pensar , relacionadas com a transição equivocada da propriedade distributiva); validar os procedimentos, analisar os seus fundamentos e estudar o que aconteceria se a proposição de uma hipótese com uma certa conjetura fosse negada; em suma, problematizar a matemática escolar com a qual trabalhamos diariamente.
Atualmente, as ações promovidas pela área de Relações com a Comunidade do Grupo Techint vinculam o pensamento matemático à vida dos alunos e dos profissionais da educação. Este vínculo não se refere apenas a uma contextualização dos exercícios ou problemas expostos, mas a um diálogo profundo sobre as estratégias matemáticas postas em jogo, e, assim, desenvolver o pensamento matemático, aquele que cada pessoa possui e deve utilizar no seu cotidiano. O foco não está no objeto matemático, mas nas práticas que estão relacionadas a este e nas construções que emergem. Abordamos particularmente o pensamento algébrico, estocástico, variacional, proporcional, geométrico, de visualização e de modelação.
Utilizamos como ancoragem os tópicos curriculares dos diferentes anos de escolaridade e, de forma transversal, trabalhamos com o desenvolvimento do pensamento matemático, mobilizando elementos característicos e particulares de cada um deles.
As ações de desenvolvimento profissional docente baseiam-se na problematização da matemática escolar, questionando o uso e a razão de ser dos conteúdos curriculares, para promover a funcionalidade da matemática. Parte-se da reflexão e consolida-se na ação. Trata-se de um processo do indivíduo no coletivo que promove uma atitude de liderança e de emancipação intelectual. O objetivo promovido é sempre o de levar a nossa transformação contínua para a sala de aula.
Aqueles que são protagonistas desses processos relatam:
"Resgate do papel ativo e protagonista que nós professores assumimos, a discussão e o questionamento sobre o que é ensinado na escola. A resolução de situações de aprendizagem especificamente concebidas para provocar um pensamento matemático e a análise dessas situações a partir das suas intenções mais genéricas e visíveis, e das suas intenções mais específicas e quase transparentes".
Profissional da educação, Argentina.
"Como professor, vivenciar a capacitação foi uma ruptura com uma prática que adaptei por conveniência e que hoje em dia faz parte da minha formação docente. É que, quer esteja ensinando matemática ou não, procuro refletir sobre o que ensino.”
Profissional da educação, México.
Por vezes, "ser bom" não significa “saber mais", mas sim refletir sobre aquilo já sabemos. Assim sendo, antes de decorar as tabuadas, seria bom pôr em prática a comparação, a estimativa, o agrupamento e a contagem. No fundo, além de memorizar a tabuada do sete, o importante é saber por que 7 x 8 é 56... o essencial é saber multiplicar. Há um grupo a que todas as pessoas pertencem: o de pessoas que pensam. Talvez esta ideia ajude a mudar a dicotomia. Nunca me lembrava da tabuada do 7, mas com o tempo desenvolvi o meu raciocínio matemático e, por isso, sinto que sou boa em matemática!
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Daniela Reyes-Gasperini. Profissional da Educação. Especialista e consultora em Matemática Educativa do Grupo Techint. Professora de Matemática - I.S.P. "Dr. Joaquín V. González”, Argentina, e Doutora em Ciências com especialização em Matemática Educativa – Cinvestav-IPN, México. Professora do ensino superior e de pós-graduação. Especialista em desenvolvimento profissional docente e construção social do conhecimento matemático. Diretora da Empoderamento Docente.
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